domingo, 6 de dezembro de 2015

Pequena carta de Prometeu a Sól.

Mulher das estrelas,
Escrevo-te de forma cálida enquanto flutuas no teu lugar de direito: terra dos ídolos, dos heróis e dos amantes. Pairas no firmamento, ó Rainha das Cores, bela e sedutora. Ainda que sonhes, teus sonhos difundem sobre a Terra a mais terna esperança; ainda que chores, tuas lágrimas sublimam o coração mais sórdido. Escrevo-te desta região remota cheio de aguardo e saudades. Mesmo longínqua, és o que de mais precioso tenho. Tenho-te sem possuir-te; amo-te sem acorrentar-te.
Ó minha amada, a mim é possível suportar a dor à qual sou infligido todos os dias pois tu sempre te descortinas no horizonte. Se assim não fosse, tal tortura teria corroído minha alma imortal há muitos milênios. Sou castigado por amar a humanidade em demasia como tu; no entanto, deste vida, antes dos homens, aos deuses, e portanto estes devem a ti reverência. Muito diferente do que pensa o Imperador dos Céus, sua punição não me traz desespero ou angústia: em meu rosto estampa-se um grande sorriso, porquanto teu brilho traz-me a mais imensa alegria mesmo frente à maior das aflições.  
Sinto tua falta, pois é noite e estás distante: teus beijos são apenas lembranças. O tecido que cobria teu deslumbrante corpo caía por terra enquanto beijávamo-nos fascinados um pelo outro; tua rosa desabrochava-se a mim e meus lábios percorriam toda tua pele. Deliciava-me em teus seios e ansiava por tua flor cálida e luzidia com todo meu ser. Tornávamo-nos um: nada mais havia no mundo além de nós. Prostrávamos cansados e abatidos por fim, ambos vencedores e derrotados.
Tu, ó fogo dos céus, fazes das nuvens tua carruagem. Vens de encontro a mim, a quem te ama. Espero-te impacientemente e anseio por tua presença mais do que ambiciono minha liberdade. A mim era hábito amaldiçoar o Olimpo; não mais: a alvorada é iminente. Há quem diga que isto denota um dia a mais de flagelo: discordo. Ainda que a águia estraçalhe meu fígado mais uma vez; ainda que as dores mais cruéis pesem sobre meus ombros; ainda que meu sangue tinja o solo de escarlate; ainda que as correntes tesas vistam a liberdade como a mais perfeita utopia, prontamente avistarei a ti e minha vida resplandecerá novamente.

Pois há mais poesia no encontro que na espera.   
Com amor,
Prometeu